Gravado ao vivo em São Paulo ano passado, o CD e DVD Lobão elétrico – Lino, sexy e brutal (Deckdisc) reafirma o artista carioca como um dos poucos brasileiros que podem realmente ser chamados de roqueiros hoje. Um registro cru, sem maquiagens ou pirotecnia, preservando o calor da apresentação. Nada mais adequado para um nome como o dele: intérprete singular, letrista que tem o que dizer e compositor competente – e que só melhorou depois de Me chama, seu primeiro sucesso, como atesta o repertório.
Comemorando 30 anos do lançamento do primeiro disco, Cena de cinema (1982), e 55 de idade, Lobão mantém-se vigoroso do início ao fim do show. São 13 faixas no CD e seis a mais no DVD. Praticamente falada (e não cantada), a boa canção Não quero seu perdão inaugura o desfile de sucessos oitentistas e de densos petardos que o cantor produziu entre meados dos 1990 e dos 2000, divisão marcada pelo período em que deu banana geral ao mainstream e tentou vender seus discos em bancas (numerados um por um).
Por conta dessa opção, o alcance das boas canções que marcaram seus últimos álbuns (Noite, A vida é doce e Canções dentro da noite escura) certamente foi reduzido, daí a importância de um disco ao vivo lançado por gravadora. Nesse sentido, serão ótimas supresas para muita gente composições como El desdichado II e A vida é doce. Para os que quiserem descobrir em perspectiva mais dessa fase, outro disco ao vivo que merece atenção é 2001: Uma odisseia no universo paralelo (2001). Igualmente vigoroso.
De Canções dentro da noite escura (2005), seu mais recente álbum de estúdio, Lobão pinçou as boas composições Vamos para o espaço, Você e a noite escura, Balada do inimigo e Não quero o seu perdão, apesar de ter deixado de fora três das melhores, Seda, Depois das duas e Boa noite cinderela. Quase sempre priorizando peso e distorção, o artista não descuida da interpretação e, ao seu estilo, metralha letras longas (por vezes verborrágicas).
Sucesso
Para matar a fome de hits dos fãs, o artista providencia nada menos que Rádio blá, Vida bandida, Me chama, Corações psicodélicos, Canos silenciosos, Decadence avec elegance e Por tudo que for. Com jeito de balada para cantar junto (mais pelo refão que pelas estrofes), Das tripas coração faz parte da nova leva de composições de Lobão, provando que ele continua em boa forma – é homenagem aos amigos Júlio Barroso, Cazuza e Ezequiel Neves.
Ponto fora da curva é Ovelha negra, sucesso na voz de Rita Lee que Lobão encarna no palco ao lado do único convidado especial do show, o guitarrista Luiz Carlini, considerado pelo anfitrião da noite como um dos maiores guitarristas do mundo. Carlini, que tocou com Rita Lee nos anos 1970 e também com o grupo Camisa de Vênus nos 1990, abrilhanta a versão com solo de rock à moda antiga.
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